sábado, 28 de julho de 2012

Vênus

O tempo está nublado. Ele sempre está nublado quando preciso. Não sei se é ironia, mas acho que ele fecha quando preciso ver o que ele está escondendo. Acho que as pessoas são assim: sempre acabam escondendo os tesouros que elas podem mostrar e por vezes oferecer ao nosso Reino.
Você se importaria de sentar comigo e ouvir minhas palavras? Talvez pela primeira vez, talvez pela segunda, talvez seja apenas um convite perdido, mas você gostaria de sentar? Ou deitar, a areia existe pra isso. Tem meu colo caso queira usar dele para um melhor conforto enquanto conto minha história.
Que tal uma troca? Você mostra suas jóias, e eu mostro as minhas, está bom pra você? Acho uma troca um tanto injusta, visto que é tão simples atravessar o que as minhas nuvens tentam esconder, acho que minhas tentativas de bloqueio são como chuvas de veraneio: rápidas, por vezes cruéis, mas rapidamente expõem o céu.
Sem mais rodeios, quero que você olhe para o céu. Permita que por um momento, eu seja seu guia, como eu gostaria de ser. Da última vez que estivemos olhando pra cima, por cima das coisas que nós podemos mostrar, estava tudo nublado. Dessa vez, espero eu, e caso vossa imaginação permita, o céu estará estrelado, muito estrelado, como naquelas belas cidades de interior ou aquelas praias pouco iluminadas, mas é apenas imaginação, então seja fértil na cabeça, assim como sou no coração.

Levante suas mãos, bote ela em um plano principal, e as estrelas e constelações como um belo plano de fundo para a montagem. Imagine um belo ponto no centro da sua mão. Para cada dedo que você tem, é um caminho a ser tomado. Qual você escolhe? pode ser qualquer um, pois no exemplo que estou usando ele irá ser fechado. Ai você tem duas opções: tentar continuar a usar este dedo ou mudar pra outro. Novamente, como sou o comandante desta história, direi que você irá insistir no dedo, e isso te deixará mal e cansado. Mas depois deste sofrimento, você tem duas opções: voltar para o centro e escolher outro caminho, ou desistir. Supondo que você quer continuar a jornada pela sua pequena mão, iremos para outro dedo, dedo que não irá contrair e se fechar pra você, e sim chegar até a ponta, onde poderá ver tudo. Isso foi um acerto, certo? Depois que você chegou ali, aprendeu e quer aprender mais, ou seja, irá migrar para outro dedo.. e por ai vai. Não quero prolongar isso, então irei direto ao ponto. Após passar por todos os outros dedos, você quer voltar ao dedo que se fechou pra você. Se ele se abrir, você terá concluído tudo. Se ele não quiser abrir, verá que isto é algo que nem seu conhecimento mais profundo irá entender, mas por sorte você conseguiu. Sua mão está totalmente aberta e explorada. Você sabe a maioria dos caminhos básicos e seus ensinamentos. Agora, meu amor, retire sua mão e olhe tudo que há atrás. Agora que você tem o básico, todas as estrelas, todo o céu, tudo é seu pra ser explorado. Todas as diversas combinações, todas as diversas luzes, tudo está para seu prazer e entendimento.

O que quis dizer com tudo isso? Por vezes, meu amor, acho que o seu entendimento tem que ser superior às minhas palavras. Está gostando das palavras? Fui chato para você novamente? Sou nada mais nem nada menos que um dedo, uma parte básica do seu universo, que você quis fechar. Será, meu jovem acompanhante, que você está vendo o brilho das estrelas nos meus olhos como eu consegui ver nos seus, mesmo que você não se permita acreditar?
Acho que essa história ficou meio louca e sem sentido, mas se isto é novo para você, para mim já é comum esta insanidade que você me causa o tempo inteiro. Acho que você poderia deixar eu brincar um pouco de contar as estrelas do seu céu, quem sabe? 

Pois no fundo, o céu que te ilumina é o mesmo que me ilumina, apesar de tudo, você percebe?

Isto não é uma literatura amorosa. Isto não é uma música amorosa. Ou será que sim?
Será que poderei te entender? Ainda tem areia em mim, e se você encostar em mim, poderá te sujar.. mas eu gostaria que você não ligasse para esse detalhe.

Pedro Arthur Cholodoski

3 comentários:

  1. adorei, é profundo e encantador

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  2. Interessante e arrebatador. Dá pra tirar uma reflexão maravilhosa daí! Adorei o questionamento "Pois no fundo, o céu que te ilumina é o mesmo que me ilumina, apesar de tudo, você percebe?"

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  3. Lindo texto, Pedro! Capaz de desenterrar cada ferida causada pelo amor em diferentes corações... Parabéns!

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